Total de visualizações de página

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Exame de consciência para os Escravos de Maria.



Exame de consciência para os Escravos de Maria




Exame de consciência sobre a prática da Perfeita Devoção à Santíssima Virgem, ensinada por São Luís Maria Grignion de Montfort.
Deve-se fazer por inteiro uma vez ao ano, nos santos exercícios, assim como na renovação anual da Consagração, segundo o desejo de Montfort, e também nos retiros mensais.
Pode e deve se fazer também todos os dias, parcialmente…, tomando deste as partes que correspondem á prática especial da Santa Escravidão, aplicando-se a ela, em modo particular.
Fora dos momentos do dia especialmente destinado ao dito exame, recomenda-se com insistência ao fervoroso escravo de Maria que com frequência, por exemplo, cada hora, entrando em si mesmo, se pergunte:
Tenho sido nesta hora um verdadeiro escravo de Jesus e de Maria, Mãe Divina, tenho-os alegrado nesta hora que acabo de viver?.

Querido filho e escravo da Santíssima Virgem, que é sua Mãe e Mestra, que diante de ti se apresenta:
Ela é quem vem a pedir-te conta do modo como tens praticado sua perfeita devoção.
Ela é quem vai te interrogar. Ponha-se em Sua presença…
Responda sinceramente às Suas perguntas maternais; não saberás ocultar-lhe nada!
Comece HOJE pedindo muito humildemente sua graça, que te ilumine para ver claro nas coisas de sua alma…
E peça-A que este exercício seja de grande utilidade para fazer-te caminhar nos caminhos de Deus.
Não tenhas medo em ver a distância que tens que percorrer.
A Mãe Imaculada há de ser seu “caminho fácil, curto, perfeito e seguro”, disse São Luís de Montfort.

SEGUNDA-FEIRA

Dependência Passiva
• Examina agora, filho muito amado e escravo querido, se tens respeitado na prática se sua vida “este direito pleno, inteiro” que me havias reconhecido “ de dispor de ti, de tudo o que te pertence, segundo o meu benefício”.
• Tens recebido com alegria e submissão, ou ao menos tem renunciado tudo para que Jesus decida e disponha ao que vos diz respeito? …
• Tem recebido com agradecimento a saúde, tens pensado em dar-me graças por ela? 
Não tem sido impaciente, não tens murmurado quando sente frio, quando está calor, quando tem fome ou sede, incômodos ou doenças?
• Tens aceitado as dificuldades como as permito, que sofras algum dano em sua reputação, quando te mostraram menos confiança, menos afeto, quando te manifestam desconfiança, quando te caluniaram ou te injuriaram?
• Quais têm sido os seus sentimentos quando tiveste que sofrer uma queda em seus bens temporais, uma dificuldade financeira, quando tiveste que suportar os inconvenientes da pobreza ou da indigência?
• Tens recebido com humildade os dons que lhe são atribuídos, da condição social que vive, da situação que desfruta, do cargo que tens que ocupar, das circunstâncias que tem que viver…? 
Todos são vontade de Jesus sobre ti, que é minha!
• Tua alma não tem estado inquieta, perturbada, descontente pela provação, doença ou morte? 
Disponho Eu de seus familiares, de seus amigos, da comunidade a que pertence? 
Tens me reconhecido como Dona e Soberana de tudo o que é seu… ? 
Haverá de aprender a respeitar meus direitos e soberania.
• Tens me deixado fielmente dispor dos valores comunicáveis e alienáveis de suas boas obras e orações? 
Ou estes têm-lhe feito falta?

TERÇA – FEIRA

Por Maria
• Vós me prometestes “obedecer-me em todas as coisas”. 
Tens habitualmente tomado a direção de sua vida e de seus atos? 
Tens me submetido suas ideias, seus juízos, suas decisões, suas palavras, suas ações? 
Não tens contrariado conscientemente o que eu te mostro? Não tens atuado por seus próprios interesses, seguindo impressões de seus sentimentos, os caprichos de sua vontade?
• Tens-me consultado em suas dúvidas, tens me pedido constantemente permissão para agir, como uma criança consulta a sua mãe para saber o que deve fazer. Tens falado frequentemente, com o coração e com os lábios:

“Minha boa Mãe, posso fazer isso? Devo deixar isto?”.

• Tens feito por obediência tudo o que Jesus pede? 
Tens pensado, julgado, trabalhado, vivido segundo as máximas, preceitos e conselhos do Evangelho de Jesus, e não segundo as máximas e o espírito do mundo, ou seja, o evangelho de satanás?
• Foste fiel evitando o pecado grave e também os veniais, sobretudo contra os defeitos dominantes?
• Tem se aplicado seriamente aos deveres particulares de seu estado, deveres familiares, profissionais, etc?
• Tens sido, como meu escravo de amor, modelo de obediência a toda legítima autoridade? 
Reconheces a autoridade de Jesus e a minha em seus superiores: padres, esposos, professores, poderes civis, superiores eclesiásticos e religiosos, sobretudo, diretor espiritual, etc?
• Não tens sido sua obediência inspirada nas qualidades e defeitos dos que estão revestidos deste poder?
• Não tem discutido e criticado as ordens e conselhos dados?
• Não houve desculpas deliberadas em teu obedecer?
• Não tens obedecido de má vontade, murmurado, com tristeza consentida, com rancor?
• Tens estado verdadeiramente entregue como uma criança a seus superiores sob a obediência, ao invés de esquivar-se?



QUARTA- FEIRA

• Tens sido, por depender de Mim, fiel à sua regra de vida que te prescreve, a santa regra que te é proposta?
• Tens dado fielmente à oração, ao trabalho, ao estudo, ao descanso, à distração o tempo que se dava para estes exercícios?
• Tens sido frequentemente assíduo em seus exercícios de piedade? Não tem os omitido, abreviado, feito com relaxo ou preguiça? …
• Reconhece minha vontade e minha direção em todos os acontecimentos que te chegam e te envolvem? 
Sabe dizem ‘’amém’’ aos consolos e alegrias, assim como às contrariedades, angústias, ocasiões de humilhação e ira, a tudo o que te destrói? 
Aceitaste da mão de Deus, e das Minhas, as injúrias, incômodos, as contrariedades, as doenças, as perdas?
• Escutaste atento, e seguiste generosamente, as minhas graças? 
Tens me negado tal ato de caridade, tal pequeno sacrifício, tal ato de generosidade que Eu te peço?
• Não existe tal ato de virtude que continuas negando a sua amada Mãe? 
Não terás chegado em teu coração o chamado que eu fazia a uma vocação mais elevada, à mais perfeita santidade?
• E em teus exercícios de piedade, Santa Missa, Santa Comunhão, meditação, etc, tens sido fiel, renunciando suas próprias disposições e intenções? 
Fiel, unindo-se à sua Mãe e Mestra, invocando sua ajuda, apoiando-se nos seus cuidados, revestindo-te de suas virtudes?
• Me tens feito a entrega de si mesmo, como um instrumento, unindo-se ao suave silêncio , com o fim de que Eu possa rezar e trabalhar em ti por ti?
• Tens nutrido por mim sentimentos de confiança e abandono que tem uma criança com sua boa mãe? 

Em “todos os tempos, em todos os lugares, em todas as coisas”, tem recorrido ao meu auxílio materno? 

Não tens descuidado deste socorro, nos mínimos detalhes da vida, nas indecisões cotidianas de sua vida espiritual, nas horas dolorosas e graves de sua existência? 

Não te deixas levar pela agitação, pela preocupação, pelo desânimo, em vez de abandonar sensivelmente a Mim todo cuidado tudo o que possa te inquietar? 

Me confias com um abandono total a hora e circunstâncias de sua morte, o cuidado de sua perfeição e de sua salvação eterna?



QUINTA-FEIRA

Com Maria
• Tenho sido, depois de Jesus, o modelo de perfeição que habitualmente põe ante de teus olhos? 
Foste fiel perguntando frequentemente “como faria isto minha boa Mãe, se estivesse em meu lugar?”.
• Tens tentado copiar, por Deus, minha absoluta docilidade de Escrava do Senhor? 
Busca viver meu Magnificat e busca a glória de Deus em tudo o que faz, colocando o amor divino em sua vida inteira e vivendo com a Santíssima Trindade em sua alma?
• Tens sido fiel a Jesus em tudo, por tudo, nada amando mais que a Ele, não vivendo senão por Ele, não aspirando senão aos seus interesses, ao seu reinado, desejando sempre uma mais estreita união com Ele?
• Imitas a minha humildade? 
Tens reconhecido praticamente que teus talentos, êxitos, virtudes, vem de Deus? Consideras com frequência teu nada, teus defeitos, tuas misérias? 
Não se tem sobreposto aos outros em pensamentos. palavras e ações? 
Sente alegria em ser desprezado e se ter como um nada?
• A meu exemplo, tens sido verdadeiramente caritativo, amando ao próximo por Deus e por Mim? 
Tens perdoado toda falta e injúria, suportando com paciência os defeitos dos que te rodeiam? 
Fostes amável e atencioso às necessidades dos outros? 
Procurou prestar serviço e ajudas? 
Não tem sido covarde e egoísta, quando havia de incomodar-se, cansar-se para servir ao próximo e fazer boas obras? 
Não tens julgado severamente, suspeitando o mal ou falando inutilmente dos defeitos alheios?
• Qual tem sido a sua atitude com respeito ao pecado? 
Lutas com valentia contra o pecado mortal e venial, até contra a imperfeição voluntária, contra tudo o que pode, de alguma forma, manchar ou sujar a beleza de sua alma?
• Empenhas em ser perfeitamente puro e casto segundo o seu estado de vida, em pensamentos, imaginações, palavras, leituras e em toda a tua conduta?
• Tiveste ódio de tudo que conduz ao mal, ao pecado?
• Tens renunciado à falsa sabedoria do mundo, que é oposta ao Evangelho de Jesus?

Lutas contra as pompas de satanás ou contra os negócios do mundo: funestos prazeres, diversões perigosas, leituras que perturbam, modas malditas?

Não terás feito obras de Satanás com a sua forma de vestir, sendo canal de pecado?

Com valentia e com constância, tens se posto do lado de Jesus e meu, e tens trabalhado em que tens podido, impedindo o mal, o pecado, a impureza, o escândalo, os excessos?

SEXTA-FEIRA

Em Maria
• Não tens deixado levar-te por uma vida solta, frívola? 
Suas ocupações exteriores não tem absorvido completamente até o ponto de esquecer da vida interior com Deus, com Jesus e sua Mãe, que tanto te amam?
• Tens cuidado de interiorizar-se frequentemente, para encontrar-Me no fundo de tua alma, para te ajudar a praticar pequenas coisas que havia te ensinado:

“ Ave Maria’’ ao dar a ho…ra, ter consigo imagem, medalha, modéstia mariana em seu vestir, jaculatórias, frases marianas em texto escrito, bênçãos que pede ao sair de qualquer lugar, etc?
• Aprendeste a viver sob o Meu olhar todas as suas horas de oração, de trabalho, de descanso e de entretenimentos, como a criança sente necessidade de estar perto de sua mãe?
• Tem se preocupado em retirar-se ao fundo do santuário de sua alma, onde habitualmente Me encontra com Jesus, em um frente a frente delicioso?
• Chegará sua alma a respirar-Me como sem cessar seus pulmões respiram o ar?

SÁBADO

Para Maria:

• De ordinário, qual é o motivo que inspira ou determina seus atos? 
Quantas vezes os tem feito por amor às suas comodidades, vaidades e amor próprio, para agradar a tal ou qualquer criatura? 
Isto não é ser escravo de Jesus, escravo de Maria!
• Tens pensado com frequência oferecer seus atos por amor a Jesus e Meu, para nos glorificar, para nos agradar?…
• Tens repetido frequentemente “Tudo por Jesus, por Maria. Tudo por vosso amor, Mãe Amadíssima?”
• Tem sido meu reinado, para chegar ao bendito Reinado de Cristo, o ideal de tua vida? 
Pensaste neste ideal em seus momentos livres? 
Ofereceste por esta intenção suas horas de trabalho, sobretudo o que te é mais penoso? 
Suas orações, teus sofrimento, contrariedades e provas? 
Vem à sua mente todos os dias oferecer a este fim sua última enfermidade, sua agonia, sua morte?

• Preocupaste-te em atrair todo o mundo ao Meu serviço e á minha verdadeira e sólida devoção? 
Não tens sentido preguiça ou covardia e por isso faltaste a frequência nas ocasiões de dar-Me a conhecer, a amar e que Me sirvam de modo mais perfeito?
 
DOMINGO

O ato da consagração e suas consequências:
“Eu vos dou e consagro, na qualidade de escravo, meu corpo e minha alma, meus bens interiores e exteriores, deixando-vos pleno e inteiro direito de dispor de mim e de tudo o que me pertence, sem exceção alguma, segundo o vosso agrado.’’
Dependência Ativa:…
• Meu filho: “Tens renovado diariamente desde o levantar, depois várias vezes durante o dia, seu ato de entrega total a Jesus por minhas mãos? 
Tem feito seriamente, conscientemente, com a ideia bem clara e vontade decidida de que me entrega realmente a propriedade de tudo quanto acerca esta devoção?
• Tens vivido na convicção e habitual pensamento de que inteiramente me pertence realmente e por inteiro? 
Tens respeitado meus direitos de propriedade sobre tudo que me confiaste, corpo e alma, sentidos e faculdades, bens e forças, não servindo-se de nada, mas deixa-os sobre a minha intenção e com a minha aprovação?

NO FINAL:

Ao terminar o exame de consciência, humilha-te profundamente diante de sua gloriosa Rainha ao ver as numerosas faltas de que tens sido culpado…
Perdão, ó Mãe Divina, de ter sido tão infiel, Não quero desanimar-me: vou trabalhar com energia e com perseverança para ser um filho mais dócil e um escravo mais fiel.
Te prometo, querida Soberana, velar especialmente sobre este ponto… Naquela… ocasião, ajuda-me com vossa graça poderosa.
Enfim, com Jesus, vosso tesouro, conceda-me, Mãe, me abençoar. 
Minha Mãe, dai-me o que necessitas e manda-me o que queres!


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

AS ALMAS DO PURGATÓRIO

Os benefícios de rezar pelas Almas do Purgatório

SIMPLES PENSAMENTOS SOBRE O PURGATÓRIO

 Os benefícios de rezar pelas Almas do Purgatório

 





REQUIEM AETERNAM DONA EIS, DOMINE; 
ET LUX PERPETUA LUCEAT EIS. 
REQUIESCANT IN PACE. AMEN



Existência do Purgatório


clique nas imagens para ampliá-las
“... se os verdadeiros penitentes deixarem este mundo antes de terem satisfeito com frutos dignos de penitência pela ação ou omissão, suas almas são purgadas com penas purificatórias após a morte; e para serem aliviadas destas penas, lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos, tais como o sacrifício da missa, orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que os fiéis costumam praticar por outros fiéis, segundo as instituições da Igreja” (Concílio de Florença, 1439).

O Concílio de Florença reafirmava o que dois outros Concílios antes dele haviam dito: os Concílios Ecumênicos de Lião I[1] e II[2], em 1245 e 1274, respectivamente. O mesmo foi reafirmado, depois, pelo Concílio de Trento[3] (de 1545 a 1563)[4].

“Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não são perfeitamente purificados, embora estejam certos de sua salvação, são, contudo, submetidos, após a morte, a uma purificação, com o fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (C.I.C. 1.030).

“Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediuum sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (II Macabeus, 12,38-46).

S. Pedro Damião, em uma visão, contempla a Virgem que caminha entre as Almas do Purgatório para consolá-las e levá-las ao Céu[5].

A Virgem revelou a S. Brígida: “Eu sou a Mãe de todas as almas do Purgatório; pois por minhas orações lhes são constantemente mitigadas as penas que mereceram pelos pecados cometidos durante a vida”[6]. Digna-se até essa Mãe piedosa entrar naquela santa prisão para visitar e consolar suas filhas aflitas. “Penetrei no fundo do abismo” – (Ecli. 21,8), isto é, do Purgatório, como explica S. Boaventura – “para consolar com minha presença essas santas almas”. “Ó! Como é boa e clemente a Santíssima Virgem”, exclama S. Vicente Ferrer, “para as almas do Purgatório, que por sua intercessão recebem contínuo conforto e refrigério”! E que outra consolação lhes resta em suas penas, senão Maria e o socorro dessa Mãe de misericórdia? Ouviu Sta. Brígida dizer Jesus Cristo à sua Mãe: “És minha Mãe, és a Mãe de misericórdia, és o consolo dos que sofrem no Purgatório”. A mesma Santa revelou à Santíssima Virgem: “Um pobre doente, aflito e desamparado numa cama, alenta-se ao ouvir palavras de consolo e conforto. Assim também as almas do Purgatório enchem-se de alegria, só em ouvir pronunciar o nome de Maria. O nome só de Maria, nome de esperança e de salvação, que continuamente invocam naquele cárcere, lhes dá um grande conforto. Apenas a amorosa Mãe as ouve invoca-la, logo faz coro com as suas preces. Ajuda-as o Senhor então, refrigerando-as com um celeste orvalho nos grandes ardores que padecem”.

Jesus adverte que a Justiça de Deus é infinita e não “quebra galhos”; tudo deve ser pago ou na Terra ou no Purgatório: “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e tu sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali tu não sairás antes de teres pago o último centavo”. (Mateus 5,23-26).

A Tradição da Igreja confirma com certeza a verdade do Purgatório: os Cristãos dos primeiros séculos, sobre as pedras tumulares, nas catacumbas, esculpiram muitas invocações a Deus para implorar refrigério que apressasse a seus defuntos a entrada no Céu.

Os grandes Padres e Doutores da Igreja: S. AgostinhoS. JerônimoS. João CrisóstomoS. Efrém da SíriaS. Cipriano etc., falam claramente do Purgatório.

S. Ambrósio, no discurso feito por ocasião da morte do Imperador Teodósio, roga a Deus de conceder ao defunto amigo um lugar entre os Santos, acrescentando que não se cansará nunca de rezar até que Deus o tenha recebido entre os Beatos.


Quanto se sofre no Purgatório?


Cada mínima pena do Purgatório é mais grave do que a máxima pena do mundo. Tanto difere a pena do fogo do Purgatório do nosso quanto o nosso fogo difere daquele pintado” (S. Tomás).

S. Agostinho (Comentários ao Salmo 37, n. 3) fala da dor que o fogo purgatorial causa no homem, mais aguda que qualquer outra coisa que o homem possa padecer nesta vida, “gravior erit ignis quam quidquid potest homo pati in hac vita” (P.L., col. 397).

Gregório Magno fala daqueles que depois da vida “expiarão suas faltas por chamas purgatoriais”, e acrescenta “ser a dor mais intolerável que qualquer outra sofrível nesta vida” (Ps. 3 poenit., n. 1).

Seguindo os passos de São Gregório, São Tomás ensina que, junto da separação da alma da vista de Deus, há a outra pena, pelo fogo. “Una poena damni, in quantum scilicet retardantur a divina visione; alia sensus secundum quod ab igne punientur” (IV, dist. XXI, q. i, a.1).

E S. Boaventura não só concorda com S. Tomás, como acrescenta que esta pena pelo fogo é mais severa que qualquer pena que possa ser dada pelos homens nesta vida; “Gravior est omni temporali poena, quam modo sustinet anima carni conjuncta” (IV, dist. XX, p. 1, a. 1, q. II). Como este fogo afeta as almas dos falecidos, os Doutores não sabem, e em tais matérias vale a exortação do Concílio de Trento, que manda serem “excluídas das pregações populares à gente simples as questões difíceis e sutis e as que não edificam nem aumentam a piedade” (Sess. XXV, “De Purgatorio”).


Melhor o Purgatório daqui que o de lá


O Senhor dispõe que tantas almas façam o seu Purgatório na Terra, entre nós, seja para instrução dos vivos que para sufrágio dos defuntos” (S. Tomás).


Quantos vão ao Paraiso logo após a morte?


Depois da morte, são raras as almas que vão diretamente ao Paraiso; a multidão das outras que morrem na graça de Deus devem ser purificadas pelas penas acérrimas do Purgatório” (S. Roberto Bellarmino)


No Purgatório há também alegria?

Não creio que, depois da felicidade dos Santos que gozam na glória, haja uma alegria similar àquela das almas purgantes. É certo que estas almas conciliam duas coisas em aparência irredutíveis: gozam de uma alegria suma e, ao mesmo tempo, sofrem inúmeros tormentos, sem que as duas coisas tão opostas se excluam e se destruam uma à outra” (S. Catarina de Gênova[7]).

Apesar dos sofrimentos, são também inefáveis as alegrias na Igreja Padecente. São Bernardino de Sena trata disso de modo convincente e digno de fé, pois se funda não em lendas e sim na teologia, e faz delas um longo elenco:

1) Confirmação na graça;
2) Certeza da salvação;
3) Amor de Deus;
4) Visita dos anjos;
5) Visita dos santos;
6) Visita de Nossa Senhora.


As almas do Purgatorio nos ajudam?


A minha vocação religiosa e sacerdotal é uma graça imensa que atribuo à minha cotidiana oração pelas Almas do Purgatorio que, ainda menino, eu aprendi com minha mãe(Beato Angelo D'Acri)[8].

Quando quero obter alguma graça de Deus recorro às almas do Purgatório e sinto que sou atendida por causa de sua intercessão” (S. Catarina de Bolonha[9]).

“Caminhando pela rua, no tempo livre, rezo sempre pelas Almas do Purgatório. Estas santas Almas com sua intercessão me salvaram de tantos perigos da alma e do corpo” (S. Leonardo de Porto Maurício[10]).

“Nunca pedi graças às Almas purgantes sem ser atendida, pelo contrário, aquelas que não pude obter dos espíritos celestes as obtive pela intercessão das Almas do Purgatório” (S. Catarina de Genova).

“Todos os dias ouço a Santa Missa pelas almas do Purgatório: a este piedoso costume eu devo tantas graças que continuamente recebo para mim e para meus amigos” (S. Contardo Ferrini).

Em sentido contrário: na Bula "Exurge Domine"[11], Leão X condena a proposição (n. 38) "Nec probatum est ullis aut rationibus aut scripturis ipsas esse extra statum merendi aut augendae caritatis" (Não se prova em lugar algum pela razão ou pela Escritura que elas [as almas no purgatório] não possam ganhar méritos ou crescer na caridade). Para elas "chegou a noite, em que o homem não pode mais trabalhar", e a Tradição Cristã sempre considerou que somente nesta vida o homem pode trabalhar pelo bem de sua alma.

Os Doutores da Idade Média, mesmo aceitando que esta vida é o momento para o mérito e o aumento da graça, ainda alguns com São Tomás pareceram questionar se há ou não uma recompensa não essencial que as almas no Purgatório possam merecer (IV, dist. XXI, q. I, a. 3). Belarmino acredita que, nesta matéria, São Tomás mudou sua opinião, e faz referência a uma afirmação de São Tomás ("De Malo", q. VII, a. 11). Seja qual for o pensamento do Doutor Angélico, os teólogos aceitam que nenhum mérito é possível no Purgatório, e se surgir a objeção de que as almas ganham mérito lá pelas suas orações, Belarmino diz que tais orações são úteis por causa de méritos já adquiridos: "Solum impetrant ex meritis praeteritis quomodo nunc sancti orando pro nobis impetrant licet non merendo" (Elas rezam pelos méritos adquiridos, como os que agora são santos e que rezam por nós, mesmo sem ganhar méritos). (loc. cit. II, cap. III).


Os nossos sufrágios


A Escritura e os Padres mandam fazer orações e ofertas pelos falecidos, e o Concílio de Trento (Sess. XXV, "De Purgatorio"), em virtude desta Tradição, não só afirma a existência do Purgatório, como acrescenta "que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar". Que aqueles que estão na terra ainda estão em comunhão com as almas do purgatório é o ensinamento mais antigo dos Cristãos, e que os vivos ajudam os mortos por suas orações e obras de satisfação, é evidente pela Tradição acima mencionada. Que o Santo Sacrifício tenha sido oferecido pelos falecidos é Tradição Católica recebida já nos dias de Tertuliano e S. Cipriano, e que as almas dos mortos são ajudadas sobretudo "quando repousa a vítima sagrada sobre o altar" é a expressão de S. Cirilo de Jerusalém, citada acima.

S. Agostinho diz que as "orações e esmolas dos fiéis, o Santo Sacrifício do altar ajudam os fiéis falecidos e move o Senhor a tratá-los em misericórdia e bondade", e, acrescenta, "esta é a prática da Igreja universal herdada dos Padres" (Serm. CLXII, n. 2).

Se nossas obras de satisfação realizadas em favor dos mortos são aceitas simplesmente pela benevolência e misericórdia de Deus, ou se Deus se obriga em justiça a aceitar a nossa reparação no lugar delas, não é uma questão respondida.

O Pe. Francisco Suárez, S.J. pensa que a aceitação é pela justiça e afirma ser prática comum da Igreja que reúne os vivos e mortos sem discriminação (De poenit., disp. XLVIII, 6, n. 4).

Os meios principais com que podemos socorrer e libertar as Almas do Purgatório são:

1) a oração e a esmola;
2) a Santa Missa e a Santa Comunhão;
3) as indulgências e as boas obras;

Indulgências:

O Concílio de Trento (Sess. XXV) definiu que as indulgências são "muito salutares para o povo Cristão" e que "se deve manter o seu uso na Igreja".

É o ensinamento comum dos teólogos Católicos que:

1. Indulgências são aplicáveis às almas do purgatório[12].
2. Indulgências estão disponíveis para elas "em forma de sufrágio" (per modum suffragii)[13].

Condições para que uma indulgência aproveite para os que estão no purgatório, várias condições são necessárias:

1. A indulgência deve ser estabelecida pelo papa.
2. Deve haver razão suficiente para se dar a indulgência, e esta razão deve ser algo referente à glória de Deus e o bem da Igreja, não meramente o proveito que resulta às almas no purgatório.
3. A obra piedosa deve ser como no caso das indulgências para os vivos.

Se o estado de graça não estiver entre os requisitos, em todo caso a pessoa pode lucrar a indulgência para os falecidos, ainda que ele não esteja na amizade com Deus (S. Belarmino, loc. cit., p. 139). Pe. Francisco Suárez (De Poenit., disp. IIII, s. 4, n. 5 and 6) deixa isso bem claro quando diz: "Status gratiæ solum requiritur ad tollendum obicem indulgentiæ" (o estado de graça só se requer para remover algum impedimento da alma), e no caso das santas almas não pode haver impedimento. Este ensinamento está ligado à doutrina da Comunhão dos Santos, e os monumentos das catacumbas representam os santos e mártires como que intercedendo a Deus pelos mortos. Também as orações das antigas liturgias falam de Maria e dos santos intercedendo pelos que passaram desta vida. Agostinho acredita que um enterro numa basílica cujo titular seja um santo mártir é de valor para o falecido, pois os que ali celebram a memória daquele que sofrem, recomendarão orações ao mártir por aquele que passou desta vida (S. Belarmino, lib. II, XV). No mesmo lugar Belarmino acusa Dominicus A Soto de imprudência por ter negado esta doutrina.

Por quatro bons motivos devemos meditar sobre o Purgatório e rezar pelas Almas purgantes:

1) as penas do Purgatório são mais acrimoniosas do que todas as penas desta vida;
2) as penas do Purgatório são longuíssimas;
3) as Almas purgantes não podem ajudar a si mesmas, somente nós podemos sufragá-las;
4) as Almas do Purgatório são muitíssimas, permanecem lá longuissimamente, sofrem penas inumeráveis, (S. Roberto Belarmino).

A devoção pelas Almas purgantes é a melhor escola de vida cristã: nos leva às obras de misericórdia, nos ensina a oração, nos faz ouvir a Santa Missa, nos habitua à meditação e à penitência, nos impele a fazer boas obras e a dar esmola, nos faz evitar o pecado mortal e temer o pecado venial, causa única da permanência das Almas do Purgatório” (São Leonardo de Porto Maurício).

“A oração pelos defuntos é mais aceita por Deus do que aquela pelos vivos, porque os defuntos precisam dela e não podem ajudar a si mesmos, como podem fazê-lo, ao invés, os vivos” (São Tomás).


A Santa Missa pelos defuntos


“Pelos vossos defuntos, para demonstrar-lhes vosso amor, não ofereçais apenas violetas, mas sobretudo orações; não cuidais apenas das pompas fúnebres, mas sufragai-os com esmolas, indulgências e obras de caridade; não vos preocupeis apenas com a construção de tumbas suntuosas, mas especialmente com a celebração do Santo Sacrifício da Missa. As manifestações externas são um alívio para vós, as obras espirituais são um sufrágio para eles, por eles esperado e desejado” (S. João Crisóstomo).

“É certo que nada é mais eficaz pelo sufrágio e a libertação das Almas do fogo do Purgatório do que a oferta a Deus, por elas, do Sacrifício da Missa” (S. Roberto Belarmino).

“Durante a celebração da S. Missa quantas almas são libertadas do Purgatório! Aquelas pelas quais se celebra não sofrem, aceleram a sua expiação ou voam logo para o Céu, porque a S. Missa é a chave que abre duas portas: aquela do Purgatório para de lá sair, e aquela do Paraíso, para nele entrar para sempre” (S. Jerônimo).

“Reza sempre à Santa Virgem pelas Almas do Purgatório. A Virgem recebe a tua oração para leva-la ao trono de Deus e livrar logo as Almas pelas quais você suplica” (S. Leonardo de Porto Maurício).


Advertências aos vivos


Com muita facilidade vocês pecam e tornam a pecar. Se provassem por um só instante quão graves, quão longas penas deverão sofrer no Purgatório cometendo mesmo um só pecado venial, o evitariam mais do que a morte. Rogai por nós que expiamos as nossas culpas passadas, evitem o pecado, todo pecado, causa única destes inauditos sofrimentos. Pregai a todos o quanto são graves estas penas onde deverão ser expiados os pecados que em vida os homens tão facilmente cometem” (Crônicas dos Menores[14]).

Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a S. Gertrudes em seu leito de morte e lhe disse: “Coragem e confiança. Logo estarás no Céu. Eis a multidão de Almas que tu libertaste do Purgatório: vem-te ao encontro, com cantos exultantes para te acompanhar ao prêmio eterno no Paraíso” (Vida de S. Gertrudes).


Ato heroico de caridade


É sabido pelo Catecismo que, por cada obra cristão cumprida na graça de Deus, se adquirem três méritos:

1) um aumento de glória para o Céu;
2) um aumento de graça para o presente;
3) uma redução das penas devidas pelas culpas passadas que devem ser expiadas na Terra o no Purgatório.

Aos dois primeiros méritos não se pode renunciar, são inalienáveis; ao terceiro, pelo contrário, se pode renunciar e pode ser aplicado às santas Almas do Purgatório: este ato pessoal constitui o Ato heroico de caridade, que consiste em “fazer à Majestade divina, em benefício das Almas do Purgatório, a oferta de todas as próprias obras satisfatórias durante a vida e de todos os sufrágios que podem nos ser aplicados depois da nossa morte”.

Este Ato heroico pode ser feito com o coração e é válido, não precisa de uma fórmula externa. É bom fazê-lo após a Santa Comunhão. Quantas Almas nós podemos libertar das terríveis penas do Purgatório com este santíssimo ato de caridade!

O Ato heroico foi aprovado pelo Sumo Pontífice Gregório XV, quando, com suaBula Pastoris Aeterni (italiano), aprovou o “Instituto do Consórcio dos Irmãos”, fundado pelo Venerável Pe. Domenico de Jesus Maria (1559-1630), Carmelita Descalço, na qual, entre os outros piedosos exercícios em prol dos defuntos, consta o de oferecer e consagrar em sufrágio deles a parte satisfatória das próprias obras.

Este Ato heroico de caridade foi enriquecido de muitos favores, pelo Decreto de 23 de agosto de 1728, peloSumo Pontífice Benedito XIII, confirmados depois pelo Papa Pio VII, aos 12 de dezembro de 1788; esses favores foram, então, especificados pelo Santo Padre Papa Pio IX, com Decreto da “Sacra Congregação das Indulgências” de 10 de setembro de 1852, da seguinte maneira:

I. Os Sacerdotes que fizeram dita oferta poderão gozar, todos os dias, o indulto do altar privilegiado pessoal.

Todos os fiéis que fizeram a mesma oferta poderão lucrar:
II. Indulgência Plenária aplicável somente aos Defuntos em qualquer dia façam a Santa Comunhão, contanto que visitem uma Igreja ou um público Oratório e lá rezem por algum tempo, segundo a intenção do Sumo Pontífice.
III. Da mesma forma, poderão lucrar Indulgência Plenária todas as segundas-feiras, assistindo à Santa Missa em sufrágio das Almas do Purgatório, e cumprindo as outras condições supramencionadas.
IV. Todas as Indulgências que são concedidas e se concederão no futuro, as quais se lucram pelos fiéis que fizeram esta oferta, podem ser aplicadas às Almas do Purgatório.

Finalmente, o mesmo Papa Pio IX, em 20 de novembro de 1854, tendo em vista aqueles jovens que ainda não comungam e também os enfermos, os crônicos, os velhos, os camponeses, os encarcerados e outras pessoas que não podem comungar ou não podem acompanhar a Santa Missa às segundas-feiras, concedeu-lhes que poderiam aplicar ao mesmo fim a Missa do Domingo. E para aqueles fiéis que ainda não comungam ou são impedidos de comungar, poderá a oferta ser comutada em outra obra de piedade pelos confessores autorizados pelo Ordinário local.

Adverte-se, ainda, que, embora esse Ato heroico de caridade seja chamado em alguns opúsculos de “Voto heroico de caridade” e venha acompanhado de uma fórmula escrita, não se deve entender este “voto” como feito em modo que obrigue “sob pecado”; também não é necessário pronunciar qualquer fórmula, bastando, para ser partícipes das Indulgências e privilégios indicados, a obrigação feita com o coração